

Territórios Insustentáveis
Por conta da minha primeira curadoria trago hoje as questões teóricas que adotei na exposição Territórios Insustentáveis, em cartaz, na Sala Antonio Berni, no Consulado da Argentina, Praia de Botafogo, 228 – Botafogo – RJ, aberta de segunda a sexta, das 10h às 17h, de 7 de novembro a 5 de dezembro de 2022, entrada gratuita.
Os trabalhos confluem na direção das discussões do circuito de arte: o espaço a partir da geografia, o tempo no campo político das relações sociais e as corporeidades, não só em novos corpos não-normatizados, como dentro de novos paradigmas dominantes. Os dois vetores interpretativos – o pensamento Descolonial e o Antropoceno – aparecem na visualidade das obras: do retrato à paisagem, dos rostos aos vestígios, dos animais aos líquens.

A insustentabilidade de habitar um mundo histórico regido pela rapidez e pela velocidade da técnica, e o seu caráter globalizado de absorção e troca, nos mobiliza e nos deixa sobrecarregados por um tempo exaustivo. Aos desafios contemporâneos na era da globalização somam questionamentos sobre as disputas narrativas, recombinando e produzindo diferenças quepropiciam outros sentidos à experiência da arte.
A guerra das narrativas incide sobre todos os conceitos que são utilizados na curadoria: a globalização (desde as grandes navegações e as ideias iluministas modernas até a discussão se há ou não integração econômica, social e cultural no espaço geográfico em escala mundial, no que tange aos fluxos de capitais, mercadorias, pessoas e informações, proporcionada pelo avanço técnico na comunicação e nos transportes numamesma condição ética), o pensamento descolonial (aqui optamos pela grafia portuguesa da palavra não desconsiderando a diferença entre o termo Decolonial e Descolonial, mas assumindo tanto a importância de falar sobre o colonialismo referente à dominação social, política, econômica e cultural dos europeus sobre os outros povos do mundo quanto à colonialidade que diz respeito à permanência da estrutura de poder até os dias de hoje) e o antropoceno (refere-se à época em que as ações humanas começaram a provocar alterações biofísicas em escala planetária e há uma crise definitiva da natureza. O conceito foi criado pelo biólogo norte-americano Eugene Stoermer nos anos 1980 e popularizado na década de 2000 por Paul Crutzen).
Os trabalhos de arte não repetem mundos, mas criam mundos. Os artistas vivem num momento histórico sempre muito próprio e isso aparece na visualidade de suas obras. Não como ilustração de um tempo, mas como uma força propositiva frente aos desafios que sentem na própria carne, produzindo diferenças que são fruídas pelo espectador.
ALINE REIS | 8 novembro 2022

