
Guerra de narrativas
A guerra das narrativas é uma constante em nosso tempo. Se pensarmos numa curadoria de uma exposição de arte contemporânea fica cada vez mais acirrada a disputa pelas definições, pelas visões de mundo e pelos domínios que estão intimamente ligados ao poder. Acrescido a isso, não podemos fechar os olhos as questões de gênero, identidade e outras demarcações que incidem sobre quem são os escolhidos e os legitimados.
Quem está por cima costuma fazer o discurso da meritocracia quando sabemos que é nos privilégios de classe e de gênero que se dão as coisas.Quem quer se aventurar a crescer fora dos padrões colonizados do circuito daarte brasileira costuma permanecer invisibilizado. Nós, as mulheres de meia idade, somos tidas como invisíveis nesse jogo.

O mercado e os grupos dominantes são soberanos na escolha de quem legitimar. A legitimação social é uma das armas mais letais ao desejo daqueles que querem fazer arte. Instransponíveis são os seus muros que dialogam diretamente com a origem, o bolso, o background, a estampa. Muito mais do que reafirmar a luta de classes e o discurso do ressentimento é colocar “prá jogo” um real impedimento social no campo da arte.

Dizem que nos países desenvolvidos costuma ter lugar ao sol para todos. Seria muito bom que houvesse espaços distintos de fruição estética que não precisassem hierarquizar e nem mesmo rivalizar uns com os outros. Dos enunciados às narrativas, da manipulação de escalas aos ditames das palavras que compõe o sumo da história, os critérios das várias guerras que se sobrepõe e se reafirmam só nos diz o quanto somos atrasados em todos os sentidos.
Como ninguém é maior que a história, falar com os pares e ter iniciativas ainda nos constitui como resistentes nesse processo avassalador que nos engole todos os dias.
ALINE REIS | 1° novembro 2022

