Guerra de narrativas

​A guerra das narrativas é uma constante em nosso tempo. Se pensarmos numa curadoria de uma exposição de arte contemporânea fica cada vez mais acirrada a disputa pelas definições, pelas visões de mundo e pelos domínios que estão intimamente ligados ao poder. Acrescido a isso, não podemos fechar os olhos as questões de gênero, identidade e outras demarcações que incidem sobre quem são os escolhidos e os legitimados.

Quem está por cima costuma fazer o discurso da meritocracia quando sabemos que é nos privilégios de classe e de gênero que se dão as coisas.Quem quer se aventurar a crescer fora dos padrões colonizados do circuito daarte brasileira costuma permanecer invisibilizado. Nós, as mulheres de meia idade, somos tidas como invisíveis nesse jogo.

Kara Walker

O mercado e os grupos dominantes são soberanos na escolha de quem legitimar. A legitimação social é uma das armas mais letais ao desejo daqueles que querem fazer arte. Instransponíveis são os seus muros que dialogam diretamente com a origem, o bolso, o background, a estampa. Muito mais do que reafirmar a luta de classes e o discurso do ressentimento é colocar “prá jogo” um real impedimento social no campo da arte.

Douglas Gordon

​Dizem que nos países desenvolvidos costuma ter lugar ao sol para todos. Seria muito bom que houvesse espaços distintos de fruição estética que não precisassem hierarquizar e nem mesmo rivalizar uns com os outros. Dos enunciados às narrativas, da manipulação de escalas aos ditames das palavras que compõe o sumo da história, os critérios das várias guerras que se sobrepõe e se reafirmam só nos diz o quanto somos atrasados em todos os sentidos.

Como ninguém é maior que a história, falar com os pares e ter iniciativas ainda nos constitui como resistentes nesse processo avassalador que nos engole todos os dias.

ALINE REIS | 1° novembro 2022