
Desejo totalizante
Acordo tarde mas não quero que o dia acabe. Tomara que a noite não chegue! Quem gosta de arte contemporânea tem esse tipo de percepção. Estamos numa corrida? Atrasados?
Alguns artistas se irritam com as discussões teóricas. Outros se deleitam quando alguém escreve sobre a prática. As palavras são sempre necessárias? Sabemos que não. O que esperar dos nossos trabalhos? Há quem não tenha nenhuma dessas marcações como marco de aproximação. Cada pressão da mão sobre um tema repercute em muitas outras discussões.

Estamos submetidos aos ditames do coletivo, da historicidade e das métricas teóricas passadas? Construímos a partir de nossos privilégios? Todas essas discussões estão submetidas aos momentos passados da história da arte? Entrelaçar as perguntas parece ser uma chave interpretativa mais próxima ao fazer da arte, não para apontar uma direção, nem para chegar a uma forma totalizante.

O desejo de totalização não parece ser próximo à arte contemporânea.Vige nela uma dimensão espaço/temporal/ um horizonte de sentido e de apreensão que se dá sempre a cada vez que as mãos pressionam um “estado das coisas”. Muitos são os perfis de curadoria que procuram suscitar perguntas aos artistas: por onde começa, de onde se vem e como se dão as capturas do processo. A história de vida parece ser um índice.
As estratégias narrativas costumam ser apresentadas como um trunfo para reunir corpos deslocados como uma forma de organizar as coisas. É certo que uma longa tradição fez com que olhássemos os trabalhos de arte como se estivéssemos em frente aos livros. Essa identificação das artes visuais com a literatura foi feita pela crítica especializada, mas advém também de um longo processo de captura do olhar, o que corresponde à subalternização dos sentidos em prol das grandes ideias.
Dos vários caminhos que podem coexistir para o interesse em fazer arte, a teoria ainda é um lugar possível. Chegada ou partida no ritmo da pressão na qual as coisas se dão.
ALINE REIS | 27 setembro 2022

