
Recortes que definem lugares
Assim como as intrusas palavras pretendem desenhar no texto docatálogo a superfície do jogo estético, os lugares sociais parecem estarperpetuamente ocupados desde sempre. Os recortes que os definem são feitosde todas as ordens: visual, linguístico e corporal.

A diversidade dos rostos e dos corpos em nosso mundo não sócontemporaneamente reivindicam o apagamento das identidades, como de suas pretensas atividades e espaços já previamente dados, porque tencionam o lugar de partilha nessa grande mesa política.
Katia Politzer dispõe o espaço expositivo nos mais variados locus de privilegio e inadequação: o mobiliário de jantar, a arquitetura das colunas, averticalidade das assimetrias entre os grupos humanos na horizontalidade dasdiscussões ambientais dos pés descalços que almejam a terra. Tudo adere àposição dos corpos no espaço comum, a disputa do protagonismo discursivo no campo das inúmeras miríades de distinções encontra na fragilidade do vidro (e dos outros materiais utilizados) uma forma propositiva potente para alcançartanto as referências da história quanto à materialidade da arte.


As relações entre os trabalhos friccionam os aturdidos autômatos quecontinuam a serem máquinas esvaziadas de sentido. As cabeças não sãopensantes. Qualquer desmonte significante do ideal de igualdade somentereforça a diferença como força motriz. De todos os panos que podemos envolver as mesas de discussão, a arte contemporânea parece ser o anteparo mais aberto ao descentramento das posições modernas, porque admite o borramento das fronteiras.
A recepção pelo espectador também espatifa o que é visto porque operacom o seu olho-máquina a apreensão de forma rápida e por travelling(movimento de câmera), portanto longe de firmar um horizonte de apreensão, aexposição Triagem de Katia Politzer separa o que será disposto de modo apropiciar apenas parte do que poderia ser visto. A estratégia é imagética, visto a imagem nos dizer muito sobre nossos modos de ser e de captura.


O visitante cativado brinca sob uma lógica múltipla, um jogo de espelhos, uma porta aberta à fruição. Não há síntese ou privilégio. O tempo eclode nas mais variadas realidades.
ALINE REIS | 6 setembro 2022

