
Imagem ou horizonte?
Venho cada vez mais pensando que a própria “natureza” é uma invenção, assim como o horizonte. Na fala de Derrida, esse último é ao mesmo abertura e limite. Mas, o que seria isso? Mesmo as explicações vivem de imagens e horizontes, portanto desgarrá-las de seus contextos quase amputa o sentido que posteriormente ensejam na vida e no comportamento dos indivíduos.

É certo que não podemos escrever mais nada, tudo passa por um revisionismo histórico e filológico que interdita todas as iniciativas. Resta-nos usar as imagens? Uma vez escrevi um texto para uma artista que começava da seguinte forma: “Costumamos segurar as coisas pelas pontas. Uma ponta da toalha é o suficiente para tirar a mesa. Desnudar superfícies…”
Incidir sobre as imagens faz parecer que saímos dos condicionamentos, o que é um percepção errônea. Em compensação se voltarmos à linguagem, caímos na grande briga das questões de gênero ligadas ao poder. Nunca as disputas pela linguagem foram tão acirradas num mundo no qual o horizonte é a imagem, o que por si só já é um paradoxo. Num novo porvir, novas imagense novos horizontes surgem nas mãos de outros atores que manipulam igualmente discursos e estebelecem verdades.

Se você está ou não incluído nesse novo mundo, aí é outra discussão. Sabe-se que na arte contemporânea a pergunta é superior à resposta, portanto poderíamos dizer que nesse contexto de cartas marcadas o lugar de fala condena alguns ao eterno silêncio e outros, a eterna falação.
A sociedade é um caldeirão de forças antagônicas e a luta de classes nunca foi tão palpável! Discute-se tudo hoje, ainda que a regra de quem pode falar, o que pode falar e como ainda seja a chave do entendimento do jogo social. O circutio de arte então vive das cabeças coroadas que tem o poder denomear e propor, enquanto aos demais mortais espera-se obediência.
ALINE REIS | 23 agosto 2022

