Cavalleria rusticana

Recentemente produzi uma instalação e pude ver que “naturalmente” a solução contemporânea dos espectadores é absorver o trabalho de arte comoimagem. Nesse ponto alcancei um dos meus objetivos, tinha a intenção de fazer surgir o ritmo do tempo histórico veloz que induz as interpretações.

Se adotarmos a metáfora da orquestra para compreender os jogos que estão ali disponíveis, podemos sentir nos mais diversos ritmos (pensamentos) atalhos para pensar o conteúdo do vivido, aliado ao repertório de cada um e àsvárias atmosferas comuns que vão aparecendo nas conversas em torno do entendimento do trabalho.

Entre as diversas frases que pontuam as junções e as dissonâncias vislumbro uma crítica de me apegar muito mais aos nomes do que “ao perfume” das coisas que criei. Me lembrei dessa passagem da Gaia Ciência: “Eis algo que me exigiu e sempre continua a exigir um grande esforço: compreender que importa muito mais como as coisas se chamam do que aquilo que são. A reputação, o nome e a aparência, o peso e a medida habituais de uma coisa, o modo como é vista – …mediante a crença que as pessoas neles tiveram, incrementada de geração em geração, gradualmente se enraizaram e encravaram na coisa, por assim dizer, tornando-se o seu próprio corpo: a aparência inicial termina quase sempre por tornar-se essência e atua como essência! Que tolo acharia que basta apontar essa origem e esse nebuloso manto de ilusão para destruir o mundo tido por essencial, a chamada ‘realidade’ (‘Wirklichkeit’)? Somente enquanto criadores podemos destruir!(NIETZSCHE, Gaia Ciência, 2012a, §58, p. 90-1).

Escolher a matéria da arte traz consigo o caldo histórico e as sucessivas camadas depositadas da tradição. Apesar dessas relações serem entendidas, muito do que se faz num trabalho de arte passa desapercebido, aí reside aforça do trabalho. O trabalho se antecipa e o artista fica para trás.