
Globos oculares
Escrever sobre arte e filosofia ora saindo de um, ora saindo de outro para percorrer grandes ou pequenas distâncias é significativo. Incompreensível e incontornável “vício” da academia é pensar com os autores. No mundo da arte muitos são os que detestam tais aportes teóricos nas conversações.
A criação de imagens também tem sua beleza porque precisamos criar a partir de algo que ainda não está totalmente explícito e desenvolvido em nossas cabeças, daí todo tipo de vestígio é promissor para tentar retirar-nos do estágio de letargia, de sonolência das madorentas redes sociais e dos imputs do oráculo google.

Criar hoje tem aspecto territorial, talvez não simplesmente hoje, porque de certa forma somos colonizados pelas palavras da moda filosófica e daí outra tentativa de saída das banalizações é ou estar up to date com o que ou atenta as ciladas de todos os tipos.
Esse lugar que ocupo tem essas peculiaridades. Fico eu aqui rodando perspectivas, abrindo gavetas, buscando abismos, percorrendo todos as quinas da mesa da arte para encontrar um outro lugar que não seja exterioridade pura, nem intimidade, nem artevismo.

Parece que o tempo encurtou nesse século de fim de festa, talvez por conta da minha própria idade, de minha condição de professora, das pesquisas e leituras… é uma fina camada de poeira que não adere em nada e os pulmões de sujeira ainda teimam em querer respirar algo que seja novo ou aceitável.
Sem opções e ao mesmo tempo com muitas, reler algumas palavras dos filósofos e dos artistas ainda alenta meus projetos! Recentemente escrevi um, tento trazer tais contribuições estabelecendo relações como forma de alcançar outras ainda não estabelecidas, levando em conta que o tempo histórico introduz novos matizes a qualquer pensamento e visualidade que se firme, ao começar já estamos fadados a estar ultrapassados…
ALINE REIS | 2 agosto 2022

