Rompendo o círculo

​Os fios que costumam estar em meus bordados teóricos sugeremdiscussões e tentam mover (por menor que seja a mudança) o móvel pesado da arte contemporânea. 

​Romper esse círculo para desobedecer às estruturas ideológicas impostas é “esbarrar” nas narrativas que não são somente palavras, mascosmovisões “com as quais fomos educados e assumimos como “naturais”, “óbvias” e “lógicas”. Uma ideologia, quando se torna hegemônica, se plasma em determinadas práticas, rotinas, tradições, motivações e interesses que, de uma maneira consciente e reflexiva, nós não tratamos de trazer à luz, investigar, analisar e questionar (Jurjo Torres Santomé)”.

Narrativas são espaciais (bi e tridimensionais) e transitem mensagens.”O real é sempre objeto de uma ficção, ou seja, de uma construção do espaço no qual se entrelaçam o visível, o dizível e o factível (Rancière)”, daí ser tão difícil romper as barreiras da ordem do senso comum e da ordem disciplinar da própria ciência.

“Muitos são os “campos de batalha — nomeados “ciência”, “filosofia” ou “política” — nos quais se enfrentam pessoas, numa mesma época ou de uma época para outra, que não estão nada de acordo entre si (Didi-Huberman. Que emoção! Que emoção?)”, assim como são o “regime de visão”, a “cultura visual” e a imagem como “lugar provisório”. Todos são conjunturas epistemológicas discursivas que dominam e diluem o real volatilizando a interpretação.

Somado a isso, a maneira de pensar e escrever sobre arte mudou. Eu poderia dizer de uma forma “antiga” que “estabelecer conexões entre um tema e um trabalho de arte pode ensejar o embaralhamento das categorias estéticas que vão desde a intencionalidade do artista à recepção do espectador”, porém alcançar a multisignificância das associações requer um certo “treinamento”, daí entra o paradoxo de Eagleton, em sua obra “A Ideologia da Estética”: “a linguagem que eleva a arte arrisca-se perpetuamente a diminuí-la”.

ALINE REIS | 26 julho 2022