Texto curatorial

​O texto curatorial costuma tecer os fios teóricos que fizeram o curador estabelecer as relações entre os artistas da exposição. Apresentar uma temática e uma hipótese que dê conta do conjunto das visualidades é uma forma de organizar o espaço expositivo e o desenho “ajuda” nesse intento.

Claro que há outros tipos de textos e outras intencionalidades, aqui penso na maioria que utiliza o texto como indício da visualidade da exposição.A linguagem costuma apontar para o espírito da época performando um hibridismo história da arte – filosofia, o que requer um repertório prévio de leituras em ambos os campos.

​O circuito de arte contemporânea fala aos seus pares. Num texto curatorial observamos não só a formulação, o conteúdo, como a maneira como a hipótese lançada coaduna com a escolha das obras e com a disposição no espaço. O tempo está explicitado na forma como o curador assimila as questões na relação direta com artistas e obras.

Os últimos dois textos que li mostravam posicionamentos distintos: no primeiro, o curador tentava desvendar o trabalho da artista lançando mão de aportes teóricos aqui e ali como forma de endossar a prática (o fazer, as escolhas de cores, de geometria…), o segundo estabelecia um vínculo com a pesquisa de uma psicanalista num recorte muito próprio entre geografia e psicanálise.

​É significativo se o texto é aberto ou fechado, se explicita ou perfila um certo aspecto a ser visto. Movimentos mais conhecidos são: o texto permite uma entrada no universo a ser descortinado in loco na exposição ou já de cara assume como verdade que tal conceito é universal e “colore” cada apreensão tanto do espectador quanto do artista.

Há outros recursos como o afastamento de uma visão eurocentrada, oua busca dos mitos gregos para criar enigmas que sejam outras imagens a concorrer com as visualidades apresentadas. Tudo é significativo, inclusive as palavras que usamos para descrever os fatos.

ALINE REIS | 12 julho 2022