
Mastro
É o artista que ilumina o caminho que se estende à frente? É tampouco o curador, uma espécie de capitão que iria na frente do barco antevendo as questões que estarão amarradas ao mastro das discussões da arte? E os teóricos? Parece-me os anos 60-70 ainda são uma fonte de inspiração nas discussões.

Subjaz em todo o século vinte o combate à modernidade. Longe de discutir se as tintas possuem matéria ideológica ou não, o enquadramentodado as discussões curatoriais apontam “a vontade de repolitizar a arte”(Ranciére). O apagamento da arte no horizonte longínquo da política aparece nas obras dos artistas: tanto na diluição dos trabalhos que não afirmam seu caráter de potência “faltando” aos artistas compreenderem o lugar social que ocupam, quanto ao “excesso” desse lugar no artista messiânico, purificador das chacinas e das violências sofridas na colonização.
Não há dúvida que o alinhamento entre arte e política é secular e tem gosto de vanguarda. Talvez uma das soluções para a não instrumentalização da arte nas malhas da ação política seja dada na capacidade conclusiva dos artistas em abrir novos horizontes com seus trabalhos de arte.

Francis Alÿs, em sua performance, “Às vezes fazer alguma coisa não leva a nada” fez isso ao empurrar uma barra de gelo pelas ruas do México, assim antes de tentar “enxugar gelo”, experimenta na ação as várias dimensões que foram se dando coladas ao seu próprio corpo. Metaforicamente ou não, a dimensão de uma prática de mudança de um estado a outro, agregou ao “objeto” de arte uma “solidez” e um “vestígio” a caminho percorrido.
Antes de ser apenas uma imagem de arte e uma nova bruma na paisagem da arte contemporânea, o trabalho adquire um algo além do seu significado. É nesse insight que ancora nossas conversas aqui neste blog.
ALINE REIS | 17 maio 2022

