
Nevoeiro
Escrever sobre a aparição de um horizonte diz muito do tempo histórico no qual estamos. É significativo Anne Cauquelin ter escrito sobre a invenção da paisagem que “se instalaria definitivamente em nossos espíritos com a longa elaboração das leis da perspectiva”.
Refazer a tradição da história da arte e os desdobramentos que incidem na arte contemporânea não só aponta uma direção, mas um limite e uma geometria. O ritmo constante de indicações e o controle da narrativa também se insinuam numa paisagem desfocando intenções e mostrando o que seriaum grande nevoeiro.
O nevoeiro foi visto por arquitetos e artistas contemporâneos, de Sejimae Nishizawa, Olafur Eliasson, e descrito por teóricos, Guilherme Wisnik, por exemplo. Mas do que inventariar todo tipo de relação que perpassa a liquidez dos tempos, chama a atenção para um nevoeiro nosso que adensa os ateliês dos artistas.

É nesse nevoeiro que ainda se mantém que encontramos o horizonte, ainda resquício de uma paisagem. Um outro salto, visto que a própria perspectiva já foi um: “Parece que se deu um salto que leva mais longe que a mera possibilidade de representação gráfica dos lugares e dos objetos, que é um salto de outra espécie: uma ordem que se instaura, a da equivalência entre um artifício e a natureza. Para os ocidentais que somos, a paisagem é, com efeito justamente “da natureza”. A imagem, construída sobre a ilusão da perspectiva, confunde-se com aquilo de que ela seria a imagem. Legítima, a perspectiva também é chamada de artificial. O que, então, é legitimado é o transporte da imagem para o original, uma valendo pelo outro. Mais até: ela seria a única imagem-realidade possível, aderiria perfeitamente ao conceito de natureza, sem distanciamento. A paisagem não é uma metáfora para a natureza, uma maneira de evocá-la; ela é de fato a natureza. (Cauquelin, 2007, p. 38)”.


