Reflexões

​As reflexões também alimentam o trabalho de arte. O caráter narrativo e “abstrato” das imagens se advindo da literatura produzem outras grafias. Uma das hipóteses é que a escrita se ancora no “real” e esse lastro se querido pelo artista em seu trabalho de arte é uma tentativa e uma escolha que faria sentido.

​Os desenhos que a ciência faz também podem ser observados como arte. Bachelard viu isso. Mas do que ser, eles se comportariam como algo e aí teríamos um nexo entre a realidade e a explicação da coisa.

​Uma postura corporal que se impõe logo de início. Há o desejo de ruptura? Os agentes externos são como fluxos, como bem disse Beuys, “o desejo de ruptura entre o homem e a realidade aparente”. Admitindo que o artista consiga efetivamente vencer todas as etapas desse deslocamento conceitual e técnico na casca visual que realiza, isso já seria um sucesso incrível. São tantas as camadas contemporâneas que o grau de dificuldade se tornou excessivo. 

Narciso Caravaggio

​Enquanto isso, na cozinha do ateliê, o tempo é outro. Propício e inquieto um tempo no qual o ateliê parece menos um ateliê e mais um laboratório cheio de aranhas (fala de uma amiga artista em relação ao dela). A umidade e os bichos se apresentam tão grandes e fascinantes quanto os meandros do fazer na arte contemporânea.

​Apanhar um tempo histórico com as mãos como se estivéssemos tentando segurar um peixe num rio é um empreendimento e tanto! O movimento do rio não para, os peixes são escorregadios, ficar em pé já é uma façanha com tantos obstáculos a te jogarem para trás.

Olhar oblíquo de São João Baptista de Leonardo

Vencidas todas essas reflexões, os boletos, as camadas de história da arte, a legitimidade de um circuito que tem suas próprias mitologias, ufa sobra muito pouco para a saúde mental dos artistas.

ALINE REIS | 26 abril 2022