Refazendo caminhos teóricos

A base da antropologia filosófica dos autores dá o tom das obras teóricas. Podemos ver isso na base humanista de Panofsky e no fundamento anticlerical de Argan (ele começa nas discussões do Neoclacissismo e do Romantismo), ambos partem de uma concepção prévia o que determina também a escolha dos caminhos nos quais o rio irá desaguar.

​A aventura de refazer caminhos teóricos datados tem o gozo de alcançar perfis distintos e novas perspectivas a serem olhadas nas discussões travadas nos grupos de arte contemporânea. Os artistas muito diferentes dos professores de filosofia ou dos filósofos não tendem a partir do entendimento de que é primordial ter uma teoria acerca da natureza da arte.

​Um artista contemporâneo não endossa nas atuais maneiras de fazer arte o entendimento de que primeiro é preciso saber o que é arte para fazê-la. Parte-se de um cabedal conceitual historicamente constituído sim, mesmo que desconstruído e apagado por uma tradição de artistas que fizeram valer o borramento dos processos, mas tais instrumentos são manipuláveis e velhos conhecidos.

​Pintar o que vê pode ser uma frase excessivamente aberta às várias interpretações possíveis, embora não deixe de ser válida. A validade das hipóteses tem um lastro na epistemologia contemporânea. Kant e Hegel ainda são um manancial teórico potente e irradiador de fundamentos. A tão propagada origem figura em nossa linguagem. Niilismo, Nietzsche, Heidegger, terra, chão.

Estabelecer analogias entre a língua e a linguagem pictórica (ou escultórica), ou seja, no campo ampliado que elas se constituíram, tensiona interpretações mas não as configura. É nesse campo minado de expectativas, entre um mundo e outro, entre a filosofia e a arte, entre os artistas e os filósofos que eu fico. Resta saber qual percentual é dado nesse formato.

ALINE REIS | 19 abril 2022