A exposição apresenta a trajetória de vida e obra do pintor Marc Chagall (1887-1985), que marcou as artes no século XX com a criação de um universo único, pautado pelo lirismo e pelo uso revolucionário de formas e cores. São mais de 180 obras,produzidas entre 1922 e 1981, com pinturas, aquarelas, litografias e gravuras que abrangem seus temas mais caros: a infância e a tradição russa, o sagrado e suas representações, o amor e o mundo encantado na ilustração das Fábulas de La Fontaine. As obras são provenientes de coleções do exterior e de acervos museológicos brasileiros.
Curadoria: Dolores Duràn Ucar

Palestra Expo: Marc Chagall: Sonho de Amor
• Palestra da curadora da exposição ‘Marc Chagall: Sonho de Amor’.
16/03, quarta-feira, 18h30, no auditório do 3º andar.
Palestra gratuita com tradução simultânea.
Ingressos gratuitos – Ingressos na bilheteria ou no site/app Eventim.
Clique para baixar o folder da mostra.


MARC CHAGALL
Ao longo de sua vida, Marc Chagall (Vitebsk, Rússia, 1887 – Saint-Paul-de-Vence, França, 1985) construiu um universo próprio, por meio de suas pinturas e seus escritos. Um mundo lírico, poético e fantástico, em que tudo é possível. Um mundo de sonhos e cores em tons que brilham – cores intensas, que dão
vida ao cenário e aos personagens, realistas ou imaginários, que povoam sua obra.
Ainda jovem, instalou-se em Paris, onde permaneceu a maior parte de sua vida e onde esteve em contato com as vanguardas artísticas do início do século XX. Suas criações são influenciadas pelo cubismo, fauvismo, surrealismo e orfismo, mas seu desejo de independência e liberdade impediu-o de ingressar nesses movimentos – foi um artista que criou um estilo totalmente pessoal e único.
Esta exposição apresenta a evolução de mais de cinquenta anos de trabalho do artista e centra-se nos principais temas que inspiraram sua criação e sua vida: suas origens e as memórias de sua infância; as tradi- ções russas e judaicas que ele viveu desde criança; sua profunda espiritualidade, que deu origem a criações muito intensas, principalmente às obras que se baseiam na Bíblia; a literatura, uma de suas paixões;
as flores e o amor. Com sua imaginação exuberante, Chagall criou um universo paralelo, único, cheio de vida e de cores vibrantes. E como ele mesmo dizia: “Na vida, como na paleta do artista, há apenas uma cor que dá sentido à vida e à arte: é a cor do amor”.
ORIGENS E TRADIÇÕES RUSSAS
Embora Chagall tenha passado a maior parte de sua longa vida longe de sua cidade natal, suas memórias de infância e sua amada Vitebsk, assim como as tradições russas, são um elemento constante
em sua obra ao longo de toda a sua trajetória.
Ele reconhecia que: “O título de ‘um pintor russo’ significa mais para mim do que qualquer fama internacional... nos meus quadros não há um centímetro livre da nostalgia de minha terra natal”.
FÁBULAS
Em 1927, o marchand e editor Ambroise Vollard
encomendou a Chagall a ilustração das Fábulas de La Fontaine, que foram publicadas anos depois por Tériade, em 1952.
Chagall era fascinado por animais. Ele cresceu em uma vila e os animais fizeram parte de sua infância e de sua vida, criando um imaginário mágico, que reflete de forma impecável a fantasia e a ironia
do escritor francês.
La Fontaine e Chagall, apesar de pertencerem a épocas diferentes, tinham aspectos em comum:
o gosto pelas tradições populares, a reflexão sobre o comportamento humano e uma imaginação exuberante. Nesse livro ilustrado, cria-se, assim, uma profunda simbiose entre a ideia, o texto e a imagem.

MUNDO SAGRADO
Chagall expressou frequentemente, em suas cartas e em seus escritos, o desejo de realizar trabalhos sobre a Bíblia e os profetas. Em 1930, o marchand Ambroise Vollard lhe propôs ilustrar os textos sagrados. Antes de executar essa série, o artista viajou com sua esposa Bella e a filha deles, Ida, para a Palestina, onde o eterno exilado, o judeu errante conectou-se a suas raízes.
As obras únicas ou aquelas que pertencem às séries “Bíblia” e “A história do Êxodo”, presentes na exposição, mostram essa conexão profunda
de Chagall com o mundo sagrado.
BÍBLIA
As gravuras da Bíblia refletem a fé, a vitalidade,
a intensa luz da Palestina que iluminou Chagall e a força espiritual que ali recebeu. Para sua execução, utilizou diferentes técnicas de gravura, todas elas com grande virtuosismo – brincou com o preto e
o branco e com a cor, com linhas finas e grossas, criando uma série de trabalhos de grande intensidade.
A HISTÓRIA DO ÊXODO
A vida de Marc Chagall foi marcada pela guerra
e pelo desenraizamento. O artista representou o Êxodo bíblico como uma alegoria da perseguição
a que os judeus foram submetidos com a invasão nazista durante a Segunda Guerra Mundial – ameaça que o obrigou a fugir de Paris para um exílio forçado nos Estados Unidos.
Várias águas-fortes desta série reproduzem os guaches que Chagall fez sobre o Êxodo, em 1931, ou neles se inspiram.
UM POETA COM ASAS DE PINTOR
“Um poeta com asas de pintor” foi como Henry Miller definiu Marc Chagall.
A literatura sempre havia sido uma das grandes paixões de Chagall. Em sua juventude em Paris, estabeleceu relações muito próximas com os poetas mais inovadores das vanguardas. Eles compreendiam o mundo mágico e metafórico de suas pinturas e o apoiavam em seus projetos.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e após o seu exílio nos Estados Unidos, o artista retornou à França. Lá ele se reencontrou com seus amigos intelectuais e poetas. Paris o recebeu de braços abertos, dedicando-lhe uma grande exposição retrospectiva no Museu de Arte Moderna, em 1947. Mais uma vez ele foi cativado pelo brilho e pela liberdade (lumière – liberté) inigualáveis da cidade.
DERRIÈRE LE MIROIR
Derrière le miroir é um conjunto de litografias publicado por Aimé Maeght em 1954, que Marc Chagall dedicou a Paris, sua amada cidade. Por meio de imagens coloridas, ele representou os elementos arquitetônicos mais emblemáticos, como a Torre Eiffel, o Panteão, Notre-Dame... entre os quais flutuam seus personagens fantásticos.
Por meio de seu trabalho gráfico, Chagall demonstrou sua admiração pela cidade que, segundo ele, “iluminou meu mundo sombrio, como se fosse o sol”.
O AMOR DESAFIA A FORÇA DA GRAVIDADE
No verão de 1915, Marc Chagall casou-se com Bella Rosenfeld. Em sua autobiografia, o artista relatou de forma poética as sensações que sua amada lhe provocava: “Eu apenas precisava abrir a janela do meu quarto e o ar azul, o amor e as flores entravam com ela”. Bella, até sua morte prematura em 1944, foi a companheira e a musa de Chagall. Ela aparece em muitos dos quadros que o artista pintou ao longo de sua vida.
Bella e Chagall sentiam o amor como uma força poderosa, que os ajudava a enfrentar os obstáculos da vida. A intensidade de sua união elevava-os acima da vida cotidiana. A ausência de gravidade, essa doce flutuação pelo azul brilhante, é a transcrição visual dessa exaltação do amor.

