
Tensão e apalpamento
Tensiono aqui no blog trazer alguns papos que encostam em discussões feitas em aulas de arte contemporânea. A tensão de apalpar questões de difíceis apreensões tem por gozo apresentar o estado de arte com as quais as coisas são feitas.
Se pensarmos a realidade como um grande corpo a ser manipulado ou como um vaso a ser moldado, colocar ‘a mão no barro’ significa forjar uma série de trabalhos de arte. São muitas as mãos e muitas são as escolhas a serem adotadas que vão trazer para frente (jogo) uma multiplicidade de conteúdos intencionais.

”(…) Dos estóicos à Idade Média, de Locke a Peirce, de Husserl a Wittgenstein, não só se procurou o fundamento comum entre a teoria do significado linguístico e a teoria da representação ‘pictórica’, como também entre a teoria do significado e a teoria da inferência. (ECO, HUMBERTO. Semiótica e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Ática, 1991. p.23).”
Não só um fundo comum (a tradição), mas na esteira das discussões entre os séculos, o paralelismo entre a linguagem e a “representação” pictórica foi se dando… É claro que podemos sublinhar a acentuada contribuição do conceitualismo que assumiu tal démarche e imprimiu uma indelével marca definitiva na arte contemporânea.
Nem precisamos tentar reconstituir anterior a ele. Começar de um ponto bem definido legitima muitos dos trabalhos de arte que discutem a arte ela mesma como um objeto de apreensão. Posso ‘sentir’ a pintura, depois ‘perceber’ a pintura, o conteúdo não mudou, mas o ato de interpretação sim (Husserl). E ajuntar a outras visadas que me façam ver outros achados naquele trabalho, para não dizer quanto posso relacioná-lo a uma apreensão como imagem.
Quem faz acompanhamento com artista sabe. O horizonte do trabalho de arte não aparece assim tão facilmente e é recorrente que artistas mais iniciantes se percam em seus próprios labirintos, visto que a matéria da qual nascem os barros são de difícil manuseio.
ALINE REIS | 29 março 2022

