“Se qualquer coisa pode ser considerada arte, então a arte deixa de ter relevância”.

Roger Scruton

O conceito de arte

Para se chegar a um conceito de arte, é necessário recorrer à filosofia. A sua definição não é tão simples como um verbete de dicionário, pois existem diferentes ideias. Neste artigo serão abordadas as duas principais:

  1. arte transgressora;
  2. arte do belo.

Arte transgressora

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Obra Comedian, do italiano Maurizio Cattelan.

A arte é feita para incomodar? As atuais expressões artísticas priorizam a polêmica, o espanto e por vezes incentivam um rompimento com padrões estéticos e de beleza. Para os defensores desta arte, o papel do artista é:

  • chocar;
  • transgredir;
  • confrontar.

Denunciar a sociedade, causar a ruptura, desvendar os seres humanos para a realidade concreta, empurrando seus próprios limites. Estes são os parâmetros das artes modernas.

Para os artistas desta corrente, tudo pode ser considerado arte. Qualquer expressão que promova tais sentimentos, pode ser uma peça artística.

Alguns artistas desse grupo chegam até a propor que não acreditam em arte. Outros exemplos que consideram artísticos são: latas empilhadas, pessoas despidas que se tocam em uma roda, pichações, etc.

As obras citadas são reais e, normalmente, chocam o espectador. Mas o desconforto é justamente o objetivo destes artistas que querem desconstruir conceitos e padrões.

Essas ideias representam um polo oposto à arte do belo.


Arte do belo

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O Nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli.

A arte enquanto representação do que é bom e belo foi o que conduziu a humanidade por séculos. Aos poucos, estes conceitos de beleza foram sendo abandonados.

Platão formulou o conceito de arte do belo. Ela serve para conectar o ser humano com o seu eu mais profundo, com sua alma. Nela, o artista deve:

  • retratar a realidade à luz do que ela seria idealmente;
  • consolar os anseios humanos com a representação do ideal;
  • buscar representar a beleza na técnica e na forma de sua mensagem;
  • conectar a humanidade com a transcendência.

De alguma forma, o transcendente e o sublime aparecem na vida das pessoas enquanto elas escutam determinadas músicas ou veem certas obras de arte.

Para a corrente da arte do belo, a beleza é um valor real, concreto e indispensável. Quando na história perdeu-se este parâmetro?


A arte na modernidade

A tradição clássica é rompida na modernidade. As novas ciências, o progresso material e as novas ideias políticas consolidaram uma visão crítica do passado. Em troca da tradição, ofereceram o desejo de criar uma nova sociedade e uma nova ordem.

A modernidade não é um conjunto de ideias fechadas. Ao longo dos últimos cinco séculos ela comportou diferentes tendências e ideias. Apesar desta dissonância, há um fator comum: a ideia de beleza e arte moderna comporta uma nova concepção.

O espírito revolucionário da modernidade envolveu também a arte. O desejo de descartar tradições e criar uma nova sociedade passou à arte e ao conceito de belo.


Por que a beleza importa?

A beleza conecta o ser humano com algo imaterial. É possível ter utilidade sem ter beleza, mas quando ela está presente, atos, ritos, símbolos, ações, enfim, as atividades humanas ganham todas um significado a mais.  Vinculada ao que é Bom e Verdadeiro, a Beleza é agradável aos olhos e se conecta ao transcendente.  

Há um ditado popular que diz o seguinte: “A beleza está nos olhos de quem vê”. Mas se ela realmente está nos olhos de quem vê, como a humanidade tem visto o mundo?

O conceito e as formas da beleza mudaram durante a história. Mas nada foi tão impactante e drástico como a mudança que ela sofreu na modernidade. O último século relativizou a ideia de beleza.

Nas artes, músicas, arquitetura, urbanismo, perdeu-se a preocupação com a beleza. O que ficou muitas vezes são formas utilitaristas ou chocantes.

Cidades que parecem verdadeiros mares de concreto. Sem forma, sem cor e, no fim, sem beleza. Intervenções artísticas que não comunicam uma mensagem bela e concreta, que chocam os espectadores.


Para o filósofo contemporâneo Sir Roger Scruton:

“Em qualquer tempo, entre 1750 e 1930, se se pedisse a qualquer pessoa educada para descrever o objetivo da poesia, da arte e da música, eles teriam respondido: a beleza. E se você perguntasse o motivo disto, aprenderia que a beleza é um valor tão importante quanto a verdade e a bondade.

Então, no século XX, a beleza deixou de ser importante. A arte, gradativamente, se focou em perturbar e quebrar tabus morais. Não era beleza, mas originalidade, atingida por quaisquer meios e a qualquer custo moral, que ganhava os prêmios.

Não somente a arte fez um culto à feiura, como a arquitetura se tornou desalmada e estéril. E não foi somente o nosso entorno físico que se tornou feio: nossa linguagem, música e maneiras, estão ficando cada vez mais rudes, auto centradas e ofensivas, como se a beleza e o bom gosto não tivessem lugar em nossas vidas.

Uma palavra é escrita em letras garrafais em todas estas coisas feias, e a palavra é: EGOÍSMO. ‘Meus lucros’, ‘meus desejos’, ‘meus prazeres’. E a arte não tem o que dizer em resposta, apenas: ‘Sim, faça isso’

Penso que estamos perdendo a beleza e existe o perigo de que, com isso, percamos o sentido da vida”.

Este trecho foi retirado de seu documentário “Por que a Beleza Importa”Para Scruton, a beleza é objetiva, concreta e leva o espectador ao bem.