Investigação em diversos tempos simultâneos

​Recentemente vi uma artista dizendo quais são as suas motivações para pintar isso ou aquilo. Essa simplicidade ao nomear e ficar apenas no factual quando há uma série de processos históricos que sustentam o fazer beira ao abismo da ideologia dado que pintar ou esculpir o que quer que seja não se sustenta sem estar próximo ao momento histórico.

O gesto duchampiano sabedor do porquê estar naquele exato momento fazendo tal coisa e não outra ainda me parece mais próximo à contemporaneidade do que a simples aleatoriedade dos temas, das técnicas e assim por diante.

​Não que a arte precise viver de explicações, nem numa finissage nem nunca, mas é preciso dizer que ao falar o regime discursivo entra em cena e uma explicação mais fecunda se faz necessária. Manusear tais questões são sempre um convite a discutir posições teóricos e ideológicas. 

​É com as mãos mesmo que manuseio o teclado e que você leitor faz suas interjeições contra mim. Vejo que há no Instagram alguns perfis que tensionam esses lugares da arte como esse blog aqui. A origem de onde provém são inteiramente diferentes da minha. Essa procedência também é significativa e a originalidade desse lugar de saída é em si a contemporaneidade do pensamento.

Por que a origem é importante? Puxamos os fios compreensivos do referencial teórico no qual nos identificamos. Associação entre coisas díspares ainda rende textos, discussões e apreensões na contemporaneidade. Mesmo o novo universal ligado ao antropoceno faz surgir visualidades na arte contemporânea, afinal os artistas estudam e estão cada vez mais próximos à academia.

Descortinar os bastidores que se projetam para frente é um dos legados da arte conceitual e como na arte nada se perde, não por uma historiografia positiva, mas por um continuum que se deixa levar no cheiro dos séculos, o que posso perguntar é: – Alguém já sentiu esse cheiro? Eu já

ALINE REIS | 15 fevereiro 2022