Entre o nada, o não, o vazio
Josef Albers propunha que o aluno pintasse o “entre” os objetos como forma de mostrar como o vazio ainda é um espaço imprescindível na “constituição” daquilo que será pintado. Compreendo a minha “visualidade” nessa mesma relação, vejo entre os livros da minha estante as várias linhas de relação que podem ser pintadas. Aqui as escrevo.

Remexer os processos históricos de constituição dos caminhos que foram sendo sedimentados pela tradição da história da arte é um dos aspectos que me interessa como paleta, não como discurso que sintetize o tempo histórico. Não só porque o circuito mudou radicalmente o leme desse navio, não só porque nada chega se constituir nesse mundo da técnica, não só porque os artistas são avessos a todo esse blá-blá-blá acadêmico. Talvez seja porque minha mão não é de uma historiadora, nem de umasocióloga…
Interesso-me como Warburg em criar junções e colocar lado a lado livros que conversem, não necessariamente pelos “problemas”, mas como forma de fazer surgir horizontes, caminhos, rasuras, contradições de uma escrita que balbucia a arte contemporânea, sem nunca capturá-la. É necessário que haja captura? Não. É nessa dificuldade que reside estar em grupos de arte, a fala que ainda guarda resíduos teóricos falseiam o desejo de totalidade e aprisionamento no enquadramento teórico.
Como não há como escamotear a situação que sempre se coloca, a fala fica sempre devedora de autoexplicação por “entre” as palavras proferidas. Uma das explicações a serem construídas é diferenciar o nada, o não e o vazio da visualidade contemporânea. As coisas podem ser díspares, podem chegar ou não a ser e quase sempre esbarram numa lógica que as aprisiona, retomar essas démarches não é um intento “vazio” porque faz surgir o chão no qual nasce um lugar e um “site-especific”. Não são as palavras que fazem surgir a visualidade.
ALINE REIS | 16 novembro 2021
