Zona de penumbra entre a história e a memória
Meu sogro diz detestar qualquer arte que precise fazer “vestibular” antes de vê-la e entendê-la. Eu ao contrário sempre gostei e ainda continuo a entender que para chegar perto de um trabalho de arte é ampliar o horizonte das discussões até o limiar do impossível.
Também não comungo da ideia hegeliana de que é inadmissível transportar leis estilísticas de um gênero artístico para outro. Bom, se pensar em “leis estilísticas” aí concordo, mas a ópera tem me ensinado a olhar as artes plásticas de maneira diferente. Entre o (des)compasso entre a voz e os instrumentos nasce uma “zona de penumbra entre a história e a memória” que faz aparecer um modo de fazer da arte contemporânea.
Sombreamos o modo de fazer histórico e ele não aparece de imediato, mas fica a memória de algo que nos escapa sempre. Aí dessa contatação fui perseguir as relações de proximidade e de distância entre as coisas que me interessam. Não há dúvida que ainda estamos presos aos filósofos Kant e Hegel (estamos sob o tacão dos dois, diz Zizek).

Puxando esse filão e lembrando de Simone de Beauvoir para qual é impossível criar independência no seio da dependência, penso que a curadoria Decolonial ainda está presa às categorias europeiase aos autores citados talvez porque ainda estejam trafegando numa esteira marxista para qual a desconstrução de seus pensamentos seja necessária.
Então, desconstruir passa necessariamente por incorporar discussões e formas de ver e conhecer que estão vinculadas a um momento histórico datado. É nessas zonas de determinação e indeterminação que giram meus estudos, sem que tenham como função impregnar a fruição. Um arranjo de Verdi tem me dado mais direção do que os conceitos de autonomia da arte, de espírito absoluto, temporalidade, corporeidade, espacialidade, entre tantos outros que preenchem a vida daqueles que amam filosofia.
ALINE REIS |14 setembro 2021

