Há uma ambiguidade estruturante

As tentativas aqui são de tocar em vários aspectos da arte contemporânea. É claro que fica patente que falo de um lugar da filosofia e que as palavras que uso são do universo heideggeriano.

​A maneira de escrever sobre arte mudou e de ver arte também. A mudança de referencial teórico, a escolha de novos tipos de relação entre o que é visto e o que é experienciado, a velocidade com que nos apropriamos das temáticas… Eu poderia dizer de uma forma “antiga” que “estabelecer conexões entre um tema e um trabalho de arte pode ensejar o embaralhamento das categorias estéticas que vão desde a intencionalidade do artista à recepção do espectador”, porém alcançar a multisignificância das imagens que nos assolam na vida cotidiana necessita de um tratamento teórico distinto. 

A livre associação das ideias e um certo “treinamento” do olhar no mundo imagético costuma constituir-se com um conteúdo de nossas experiências a ser explorado. Mas, antes de tomá-lo como referência, é preciso levar em conta o poder narrativo das imagens. Significa dizer que para fazer qualquer relação entre um trabalho de arte contemporânea e uma temática faz com que tenhamos que nos lançar ao jogo da interpretação para lidar com diversas camadas de vida e arte depositadas de forma “acidental”.

Se partirmos da livre associação das ideias a serem lançadas e jogadas no horizonte interpretativo, temos muitas perguntas a nos fazer: a familiaridade com que temos diante das imagens, fruto de muito “treinamento”, possibilita enxergar o trabalho de arte para além dele mesmo? O trabalho comporta-se como imagem? Quantos intercâmbios de apreensões distintas (e leituras desiguais) são necessários para constituir um trabalho de arte contemporânea?Por que hoje se fala em imagens e não em obras? Por que se fala em trabalho de arte em vez de obra de arte? Por que mesmo que o artista contemporâneo saiba “manipular os signos” ele nada é (perante o circuito) se não for legitimado pelos agentes “certos”?

ALINE REIS | 7 setembro 2021