Paisagens materiais II
Os discursos curatoriais não só afirmam determinados referenciais teóricos como lidam com temáticas e conceitos-chave.
Concomitante ao cenário marxista do circuito para o qual a matéria comporta também o aspecto do sofrimento (“a história é o sofrer humano como exploração”¹) temos queadicionar a definição de Giorgio Agambem sobre a contemporaneidade.²Por que juntar tudo isso? Ajunto como numa colagem com a intenção demostrar como o contexto no qual as coisas se dão é significativo na escolha deum título, da hipótese curatorial e do texto que vigore na parede da exposição(inclusive mesmo na escolha das obras).
Cola-se imagem, discurso e conceito num “enquadramento” desfocado,aparentemente desarrumado sustentando pela lógica agamberiana “não coincidente” do contemporâneo, e tudo o mais se rearruma: a dimensão corpórea afeta significações, performativiza e gera efeitos de apropriação pelos agentes da arte contemporânea.
Perseguir rastros enunciativos como Marxismo, Metanarrativa, Distopia,Deslocamento, Apropriação, Exterioridades e Ontologia faz com estejamos mais próximos ao que é pensado e legitimado pelo circuito.
¹ BAIOCCHI, Ana Beatriz Carvalho. Filosofia da História em Fredric Jameson. Uma crítica às aporias do pós-modernismo. (Tese de 2010)
² AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Trad.: Vinicius Nicastro Honesko.Chapecó, SC: Argos, 2009: “é uma singular relação com o próprio tempo, que adere a este e, ao mesmo tempo, dele toma distâncias; mais precisamente, essa é a relação com o tempo que a este adere através de uma dissociação e um anacronismo. Aqueles que coincidem muito plenamente com a época, que emtodos os aspectos a esta aderem perfeitamente, não são contemporâneos porque, exatamente por isso mais próximos ao que é pensado e legitimado pelo circuito.
ALINE REIS | 31 agosto 2021