“A coisa da arte”

Relendo o texto de Joseph Kosuth “A arte depois da filosofia” (no livro Escritos de Artistas: anos 60-70 organizado por Glória Ferreira e Célia Cotrim da editora Zahar) me deparei com a citação de Ad Reihardt:

“A única coisa a ser dita sobre a arte é que ela é uma coisa. A arte é arte-como-arte e todo o resto é todo o resto. A arte como arte não é nada além da arte. A arte não é o que não é arte”.

Isso me fez pensar numa série de questões que gostaria de compartilhar aqui.

Dos vários cursos e encontros que participei nunca me passou desapercebido que o artista ou o curador partiam de algum lugar para falar sobre arte. Parece bem simples essa afirmativa, óbvia antes de tudo, mas não é. Partir de um ponto dado, um referencial teórico já previamente construído (pela história ou pela adoção de uma escolha teórica bem articulada) traz desdobramentos de aspecto formal que incidem significativamente na apreensão do que é arte.

Beuys

Uma vez numa exposição conversando com um curador ele me perguntou se eu ia da filosofia à arte ou da arte à filosofia e essa mera sugestão me deu um lugar no mundo. Eu olho da filosofia para a arte e isso faz toda a diferença na construção do meu trabalho de pensar a arte contemporânea. Recentemente vi uma professora dizer que parte da educação para a arte, o que muda significativamente o campo no qual estamos proferindo as sentenças e os enunciados.

Como o intuito aqui é invadir a contemporaneidade a partir do território transdisciplinar da arte, as interseções entre àqueles que a tem como paixão promovem o surgimento da coisa da arte e nada mais (todo o resto é resto), em intercâmbios de apreensões distintas (e leituras desiguais), e tal alinhavo produz novos sentidos da arte como coisa, costurando noções, mapeandopossíveis discursos (historicizantes ou não), fazendo surgir a pesquisa, compreendendo que a arte contemporânea alarga os horizontes em qualquer uso que se faça de seus processos.

ALINE REIS | março 2021