
“Muito se discute sobre o que vem a ser Arte. Desde o século XX ocupamo-nos a questiona-la e estabelece-la como se pudéssemos molda-la. Devemos sempre questionar a obra, não a Arte. O dinamismo e o imediatismo de nossos tempos leva-nos a considerar somente o presente e a esquecer e renegar o passado. Na ânsia de criar o ‘original’, derrubamos impiedosamente as realizações anteriores, numa sucessão de rótulos e ‘ismos’ que acabam por desvirtuar o verdadeiro sentido e objetivo da Arte. Acredito que a verdadeira Arte não pode ter radicalismos nem padrões estéticos estabelecidos; deve ser somente bela – naturalmente, a própria beleza não é padronizada, é um sentimento e não uma forma . Não se precisa jogar os Pompiers nos porões para darem lugar aos Impressionistas; Picasso não deixa de ser Arte se Van Eyck o for, ou vice-versa.”
Cláudio Dantas.
Por que a beleza importa?
Este é o título do essencial e ‘obrigatório’ documentário de 2009 – mas cada vez mais atual – do filósofo e escritor inglês Roger Scruton.

Ele faz uma aterradora afirmação que estamos cada vez mais nos afastando do Belo nas artes e na cultura ocidental e que a beleza não é relativa e sim absoluta e fundamental para nossa qualidade de vida.
A atual conjuntura do mercado de arte mundialmostra que ditas obras de arte estão sendo produzidas quase que exclusivamente para projetos de decoração e que em grande parte destes projetos a participação do usuário é cada vez menor do que o desejável no que concerne à escolha das obras – que deveriam refletir sua personalidade e individualidade – para sua própria casa.
Isto acabou por transformar colecionadores de arte em compradores de mais um produto para compor um ambiente.

Acredito que o momento é de mostrar para os criadores de tendências e formadores de opinião, assim como para os futuros colecionadores, que Arte não somente reflete o interior e os meios do artista, mas principalmente o expectador, e que a pintura e a escultura figurativa, de representação, são opções duradouras.
Assim, volto ao tema desta postagem, pois em uma época em que estamos praticamente trancados em nós mesmos a Beleza é nossa taboa de salvação contra uma maré de terror, pessimismo e oportunismos baratos. E temos de ser fortes e sinceros em permitir que nosso próprio gosto nos guie apesar das imposições de mercado e de tendências.
Claudio Dantas (Fevereiro 2021)

