
O Sol
Pretende-se deixar nessas linhas um porvir, uma conversação que não seja planejada, porque a conversação geralmente se constitui de uma palavra que puxa uma outra e assim por diante. Na direção de Gadamer, “o que“surgirá” de uma conversação ninguém pode saber de antemão. O acordo ou o seu fracasso é como um acontecimento que se realizou em nós. Assim, podemos dizer que foi uma boa conversação, ou que os astros não foram favoráveis. Tudo isso demonstra que a conversação tem seu próprio espírito e que a linguagem que empregamos ali carrega em si sua própria vontade, ou seja, “desvela e deixa surgir algo que é a partir de então.” ¹
O que está em jogo é que não podemos ter acesso à experiência originária que fez com que o outro dissesse isso ou aquilo, embora eu possa fazer da palavra do outro, da exterioridade alheia, uma experiência. Como aqui conversamos sobre a arte contemporânea estamos sempre nesse momento de incorporar as palavras do outro para chegar mais próximo à outra experiência, tanto no sentido da alteridade quanto da criação de novos mundos.
Sendo a polifonia uma máxima, as várias vozes que aparecem parecem conduzir à múltiplas direções… Então, por que o sol? Por que as linhas de um porvir? É na quentura de um astro, uma sensação na pele que vem me levando a prosseguir escrevendo coisas que vão aparecendo nas obras que cercam o referencial teórico da arte nos dias hoje e que figuram na feitura da curadoria e nos textos expostos.
O corpo que caminha nas exposições busca entrar em contato com a materialidade da arte e a experiência corporifica aquele corpo de tal maneira que fracasso ou sucesso não são as únicas guias de entendimento.

Marcos Chaves

Carlos Vergara
Lembro-me de ter dor de barriga ao ver Goya no MAM, de achar que tinha enfim encontrado a felicidade com Marcos Chaves no Sergio Porto (1990) e com as terras de Vergara no Paço.

ALINE REIS | 4 janeiro 2022
¹GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método I: Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica.Petrópolis: Vozes, 2008, p. 497
