Múltiplas exterioridades, exterior inassimilável
São minhas leituras e os grupos que participo que me dão um chão para existir. A espuma da arte contemporânea anima o interior de muitos. Há todo um circuito de pessoas que vivem alegremente para ela. Mas não é só de alegria que vivem os artistas, os curadores, o público especializado.
Ficamos numa posição difícil quando o próprio circuito de arte te joga para exterioridade pura, rejeitando a sua contribuição, sua própria competência técnica como se o critério de inclusão seja somente o dinheiro ou o paradigma atual dominante Decolonial.
Os caciques do circuito precisam endossar a sua candidatura. É um circuito sociológico de aceitação de determinadas classes ou peles que precisam dar o seu sim para abrir a porta da galeria, passar na residência e nos editais. Endossar um trabalho de arte leva em consideração a idade, o bairro, as experiências acadêmicas, a panela dos amigos.
Aqui busco o ritmo do mundo espumante da arte contemporânea não descrevendo-o de forma exterior, sem habitá-lo, muito pelo contrário, tenho a pretensão de encostar nas coisas. Não adianta de dizer que o olhar especializado sabe o que é bom e o que não é, tal argumento só escamoteia o critério muito claro da escolha de x e não de y.
Explicitar tais questões é muito mal visto. Fica-se numa mística que só encobre as verdadeiras razões. E por que não explicitá-las? Por que não colocar “prá jogo” o conteúdo, as construções, os processos, o quase-nada da visualidade que advém do niilismo histórico?
Num mundo que não ter preconceitos é ímpar e determinante, falar sobre eles é quase um palavrão. Não é porque não falo que não exista o jogo econômico e político que impregna a cultura das artes plásticas. O que é contraditório no processo do fazer da arte contemporânea totalmente impregnado de camadas. Será que é assim em todo lugar do globo, ou é porque somos uma país colonizado e altamente hierarquizado? A saber, a discutir, a ver, a se embrenhar nessa floresta.
ALINE REIS | 7 dezembro 2021
