O que colecionamos?”

Quando pensamos na arte contemporânea e na maneira como ela se move vemos que ela não se move numa reta, mas em curva alterando constantemente a sua direção. Os espaços são precários e problemáticos? O que liga os vários trabalhos de arte? Por que tentar chegar ao contemporâneo, em vez de ficar somente falando sobre o contemporâneo?

As várias visualidades que foram aparecendo coladas a forma como a tematizamos nos levaram a reconhecer novas suposições (e hipóteses) tanto incidindo no processo que vige no trabalho de arte, quanto nos vários desdobramentos que estão por vir…

​O que colecionamos? Interpretações? Nisso me pego amando Warburg e a maneira com a qual alinhou e agrupou as problemáticas. Se há lacunas no mundo contemporâneo e essas são vivenciadas, se condicionam o nosso sistema de valores sobre os quais nossa cultura se baseia ao experienciar a arte, tudo isso passa a ser significativo no acontecer da percepção da arte. 

Além disso, essa concepção é espacial (como os 23 graus de alinhamento do trabalho de Nelson Félix) permitindo avançar na compreensão do fenômeno que se descortina na minha frente. Tudo isso em si já me move no gozo da arte. Mas mesmo que todo gozo seja efêmero e haja a intenção de permanecer nele, os elementos (e instrumentos) que fazem com que minhas mãos toquem o teclado ainda são envoltos num total arrebatamento da arte.Aqui palavras, outrora colagens.

​Difícil falar das relações que conduzem os trabalhos de arte contemporânea sem a linearidade e a imposição das coisas na ficha técnica. Existir não deveria ser estar submetido à nenhuma regra matemática. Mesmo num texto a contagem das palavras mantém uma camisa de força. Isso porque estamos nos liames das coisas tentando fazê-las, tensionando, subvertendo, raspando o taco da materialidade das coisas.

As coleções são lidas também, interpretadas, agrupadas em conceitos, tanto as de arte quanto as de outra ordem quaisquer. É porque nelas habita os ‘entres”, os precários “arquivos” (Borges), e as associações (Barthes…).

ALINE REIS | 3 agosto 2021