Esgarçar a interpretação como pressuposto hermenêutico da arte contemporânea

​Esgarçar a urdidura da trama da interpretação como pressuposto hermenêutico da arte contemporânea é um ponto muito importante do nosso tempo histórico. Não só porque põe em jogo as várias interpretações que incidem no campo da arte como mostra uma série de origens no processo de trabalho de arte.

​O interesse aqui é fazer gritar as significações dadas nos trabalhos de arte contemporânea, corroborando muito mais no que Tunga nomeou como “o rigor da distração” e “a lógica do brincar” do que menos num um discurso silencioso que a alma elabora a partir de conceitos, como em Platão.

​Independente de onde se beba, dos lugares que isso ocorre, omanancial imagético e “criativo” do processo, aparece como horizonte de conversa e interpretação crítica costumando sedimentar também a matéria do dizer arte. Nada está fora nem da linguagem, nem da sedimentação histórica dos conceitos.

Aqui embaralhando os sentidos da interpretação ao pleitear sussurros que ainda possam ter grande poder¹ utilizo um aprendizado das conversas com David Cury: isso ocorre porque o pequeno formato se atualiza no grande formato, o que produz a potência na arte contemporânea.

David Cury Antônio Conselheiro

​O esgarçamento se dá por uma rede de proposições que são necessárias a fazer ao trabalho de arte. Li certa vez que um jurista desabonaria tal esgarçamento que produziria ruptura. Sim, os rompimentos mais visíveis estão datados em nosso tempo por Nietzsche, entre outros, e são urgentes, necessários, universais.

​Resgatá-los em novos universais pode ser uma tendência conhecida, uma interrogação seria se isso ainda é possível. No campo da arte parece autoevidente que não. Partimos de outros sites sem rumo quando somos apanhados pela historicidade. De tudo o que ouço: sedimentação da tradição, tentativa de saída dos buracos, a coisa mais significativa é estar vivo.

ALINE REIS | 5 abril 2022

¹ Antinomies of Art and Culture: Modernity, Postmodernity, Contemporaneity. Terry Smith (Editor), Okwui Enwezor (Editor), Nancy Condee (Editor). Duke University Press, 2009