
Não se esqueça de apagar o fogo para dar comida ao gato. Lapsus, esquecimento e omissões¹
Um artista muito querido e de alto calibre me disse que não queria submeter seu trabalho de arte ao escrutínio do reino da imagem do Instagram. Esse insight de lucidez para fora dos ditames do capital me fez pensar em várias relações ocultas que deixam de aparecer na superfície quando, à guisa de nos relacionarmos hoje pelas redes sociais, nos tornamos imagens perfis de nós mesmos.

O regime de imagem “estraga” seu trabalho e não estamos tratando de discurso. A associação não é à toa, se pensarmos na tradição que nos forja “nasceu como um discurso sobre o corpo. Em sua formulação original, pelo filósofo alemão Alexander Baumgarten, o termo não se refere primeiramente à arte, mas, como o grego aisthesis, a toda a região da percepção e sensação humanas, em contraste com o domínio mais rarefeito do pensamento conceitual. A distinção que o termo “estética” perfaz inicialmente, em meados do século XVIII, não é aquela entre “arte” e “vida”, mas entre o material e o imaterial: entre coisas e pensamentos, sensações e ideias; entre o que está ligado à nossa vida como seres criados opondo-se ao que leva uma espécie de existência sombria nos recessos da mente. (Eagleton, Terry. A ideologia da Estética. RJ: Zahar, 1990).”
Assim como a problematização de María Acaso em Pedagogias Invisíveis¹ sobre o currículo oculto nas escolas, podemos fazer um paralelo com o mundo da técnica (Heidegger). Ocultando o essencial a ser visto (e pensado) é certo que hoje estamos convidados a produzir avatares técnicos e esvaziados na ciranda da imagem, o que por si só já nos coloca diante da máxima: “ser é o produto contingente das circunstâncias”. Sem questionamento fomos lançados numa dinâmica de visibilidade na rapidez da técnica, esvaziando o que ainda permanece no trabalho de arte.
ALINE REIS | 15 março 2022
