Curadoria

​Geralmente a apresentação dos trabalhos de arte num espaço expositivo é motivada por uma narrativa. Cria-se todo o tipo de subterfúgio teórico para embalar a visualidade dando sustentação ao discurso curatorial.Costumo perseguir tais horizontes visuais e teóricos como maneira de enxergar versões – experimentações – desejos – provocações – camadas e ideias que liguem a história da arte aos autores entrecruzando o mapa de relações no qual o lugar da curadoria surge e com ele os condicionamentos históricos, os novos fenômenos, os novos paradigmas.

​Todas essas relações podem ser explícitas ou não, explicitadas ou não.Lidar com elas pode ensejar como resultado várias variáveis: tanto na margem da exterioridade quanto na criação de uma atmosfera como faz o educativo. A julgar pela forma como a contemporaneidade aparece em nosso campo de visão, podemos esfumar o discurso curatorial trazendo à tona elementos do senso comum como forma de dar ao espectador entrada num universo que possui densidade suficiente para embaralhar visões…

“Sujar as mãos” com conceitos “substancialistas” ou não parece ser ainda uma “escolha” se pensarmos que os jogos das interpretações podem fazer fruir, contaminar e operar um deslocamento em meio às questões do nosso tempo. Vattimo para quem a hermenêutica é a nova Koiné¹ compreende que a senda aberta por Gadamer mostra como o proceder filosófico já se encontra desde sempre em ato como crítica literária e artística.

Ainda uma longa esteira do pensamento Heideggeriano se estende por sob o “chão” do contemporâneo por mais que muitos dizem não haver chão. É nesse entrelaçamento Nietzsche, Heidegger, Gadamer, Vattimo, Gumbrecht, Löwith, Figal que reside meus eixos teóricos favoritos: hermenêutica, espaços, temporalidades, corpos técnicos e visualidade niilista, assim como numa outradireção a arqueologia da intimidade de Bachelard e Sloterdijk e a apreensão da obra de arte como trabalho de arte e imagem na esteira de autores como Didi-Huberman, Warburg e Crary.

¹ Koineização é o processo em que vários dialetos de uma mesma língua se modificam mutuamente e chegam a uma língua comum, a koiné

ALINE REIS | 1º fevereiro 2022