A simbiose

​“A retórica não marcou apenas a tradição e a produção literárias. No Quattrocento florentino, Alberti aconselhou os pintores a familiarizarem-se compoetas e retóricos para buscar inspiração para a criação dos temas plásticos.”¹

​Vê-se nesse trecho que a entrelaçamento entre a criação literária e a visual é um dado histórico. É uma construção de uma certa tradição europeia. Narrativa ainda nesse momento, posteriormente teríamos o “fim da arte”, ou da“narrativa”.

Puxando as coisas pelas pontas como forma de desnudar outras superfícies, eu diria que as imagens estão se grudando aos interiores, às passagens e aos exteriores da paisagem. Metaformoseando paisagens em imagens, nos resta o vestígio que impregna ainda mais nossas retinas de história.

​A superfície tem a capacidade de velar a geometria. Aqui muito mais do que estudar os aspectos que colam ao fazer e ao significado que adquirem, pretendemos colocar prá jogo o que vai sendo mexido nesse caldeirão da arte contemporânea. Nada é gratuito. Varrer os vestígios ainda é uma forma de refletir sobre o retorno de algum ponto que ficou…

​Alteradas e acrescidas, superfícies e paisagens, são nossa matéria mais “imediata”, meditar sobre tais pontos ainda faz marola. Uma vez me falaram que havia pessoas que estavam procurando a próxima onda a subir, eu por acaso sou uma delas, o mar puxou para trás alguma coisa e logo em seguida vem uma nova onda que se constituiu do passado e está “futurando”.​

A dinâmica se constitui nas vagas, embora sempre vá existir movimentos que a gente não vê crescer e que explodem na praia mudando tudo. Recentemente isso aconteceu como paradigma. De resto, as ondas vão e vem e surfar nesse mar é tão potente quanto previsivelmente histórico.

ALINE REIS | 28 dezembro 2021