Matéria com base em https://dasartes.com.br/materias/sophie-taeuber-arp/
Por Drika de Oliveira diretora de conteúdos audiovisuais na Redes
da Maré. Atua como fotógrafa e é preservadora audiovisual
voluntária na Cinemateca do MAM-Rio. É graduada em
Comunicação Social-Cinema pela PUC-Rio. Membra da
Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA).

SOPHIE TAEUBER-ARP •
TATE MODERN • REINO UNIDO • 15/7 A 17/10/2021

De julho a outubro de 2021, o Tate Modern, em Londres, apresenta a obra de Sophie Taeuber-Arp, uma das principais artistas de vanguarda dos anos 1920. A exposição reúne diversas obras da trajetória da artista, muitas delas ainda pouco conhecidas. A mostra faz parte de um ciclo, que começou no MoMA (Nova York, EUA), em fevereiro de 2020, passando pelo Kunstmuseum Basel (Basel, Suíça), em março de 2021, e chegando ao Tate Modern, onde acontece a primeira retrospectiva de Sophie realizada no Reino Unido. São mais de 200 itens presentes nessa exposição.

Sophie produziu suas obras ao longo de quase três décadas. Ela trabalhou em pinturas, esculturas, vitrais, obras em papel, marionetes, policromos, bordados, têxteis, fantasias, projetos de arquitetura e objetos de arte decorativa, como bolsas, colares em miçangas, tapetes e toalhas de mesa bordadas. A artista também foi editora da revista internacional de arte Plastique-Plastic e professora na Escola de Artes e Ofícios de Zurique por mais de 10 anos.

Geometric Forms (beaded bag). 1918. Courtesy Museum fu¨r Gestaltung Zu¨rich, Zhdk.

Sophie Henriette Gertrud Taeuber nasceu em 1889, em Davos, na Suíça. Devido ao falecimento do seu pai quando ainda era bastante jovem, ela e a família se mudaram para a Alemanha. Mais tarde, ela precisou voltar para a Suíça devido à Guerra. Em 1915, conheceu Hans Arp, um dos principais artistas do movimento dadaísta, com quem se casou sete anos depois. Durante a Primeira Guerra, Taeuber-Arp se viu rodeada de um efervescente núcleo artístico, com nomes como Tristan Tzara, Hugo Ball, Marcel Duchamp, Sonia Delaunay e o próprio Hans Arp.

Tendo sido aluna dos pioneiros da dança expressionista, Rudolf von Laban e de Mary Wigman, em 1916, Taueber-Arp dançou na fundação do Cabaret Voltaire, berço do movimento dadaísta. Sua inclusão no dadaísmo se mostra não só pelo fato de ter assinado o manifesto do movimento e por suas performances de vanguarda, mas também pela aprovação imediata pelos dadaístas de suas esculturas de madeira para marionetes em 1918 – as quais constam na exibição do Tate. Alguns marcos das técnicas de Taeuber-Arp com madeira são Chalice (1916), Amphora (1917) e Dada Bowl (1920).

Dada Bowl, 1916. Stiftung Arp e.V., Berlin. Foto: Alex Delfanne.

Assim, embora inicialmente treinada para trabalhos de arte aplicada, que historicamente não recebem a mesma atenção dos críticos de arte, Sophie Taeuber-Arp se tornou célebre com suas explorações na pintura e na escultura abstrata. Os relevos circulares da artista são um ponto alto nesse sentido. Com uma sala dedicada a eles na exibição do Tate Modern, o público tem acesso a um jogo de formas e cores que parecem se mexer por si mesmo: tanto pelo desenho das formas, quanto pelos contrastes de cores e pela característica do próprio relevo, que parece se contrair ou se expandir dependendo do ângulo que se olha.

Flight: Round Relief in Three Heights, 1937. Stiftung Arp e.V., Berlin. Foto: Alex Delfanne.

Nessa vida pulsante das obras, notamos uma fluidez de energia que pode ter suas raízes na exploração corporal que Taeuber-Arp fez da dança em seus primeiros momentos no contexto artístico. Ela mesma dizia que queria produzir “coisas vivas” e parece ter conseguido. Como o crítico Adrian Searle comenta, mesmo as abstrações de Taeuber-Arp parecem quase figurações, sugerindo uma relação entre as formas das marionetes de lata e madeira com seus trabalhos formais com cores sobre tela. A alta precisão do traçado faz as cores pipocarem e, junto a isso, certas sobreposições e certos ângulos inesperados produzem efeitos impressionantes de profundidade e “desplanificam” as abstrações, como vemos, por exemplo, em Squares representing a group of people (1920) e Composition of Circles and Overlaping Angles (1930).

A exposição do Tate Modern, aliada às duas outras exposições de mesma grandeza em Nova York e em Basel, pretende não repetir o obscurecimento dos trabalhos de arte aplicada. A exposição no Kunstmuseum, por exemplo, é iniciada precisamente pelos trabalhos com tecido e bijuteria da artista, os quais já apresentam padrões abstratos e contrastes vibrantes de cores – deixando-se para o final os trabalhos mais legitimados pelo establishment.

Composition of Circles and Overlaping Angles, 1930. © 2019 Artists Rights Society (ARS), New York / VG Bild-Kunst, Bonn.

A ideia foi parear a exposição com o movimento da própria artista, que superou, por meio de suas obras, os divisionismos entre as “belas artes” e as “artes aplicadas”. No Tate Modern, por exemplo, deparamo-nos com um design de interior que Taeuber-Arp fez para um bar em Strasbourg e um design para uma casa de vitrais. Esses são apenas alguns exemplos da ampla gama de interesses da artista, indicativos de um corpo de obras diversificado e sempre expansível.

Geometric Forms (necklace). c. 1918

Dada Head, 1920. © CNAC/MNAM/Dist. RMN-Grand Palais/Art Resource, NY. Foto: Philippe Migeat.

Untitled, 1918. © CNAC/MNAM/Dist. RMN-Grand Palais/Art Resource, NY.

site www.sophietaeuberarp.org reúne, em um formato bastante completo, informações e pesquisas recentes sobre a vida e as obras de Taeuber-Arp. Para além da biografia e fotografias da artista, o site disponibiliza também um catálogo online com quase mil obras de Sophie Taeuber-Arp – ferramenta fundamental para pesquisadores e importante esforço de preservar a obra dessa artista. Nessa plataforma, as obras catalogadas podem ser apresentadas em ordem cronológica ou podem ser pesquisadas individualmente, em uma ferramenta de pesquisa avançada por meio de ano, título ou localidade. Há também um espaço para comunicar trabalhos perdidos ou desconhecidos, a partir do preenchimento de um formulário.

É a primeira vez que a obra de Sophie Taeuber-Arp foi tão amplamente documentada em uma base acadêmica. O site é, assim como o ciclo de exposições que passou por Nova York, Basel e agora termina em Londres, a marca definitiva dessa artista na história da arte.

Stag (marionette for ‘King Stag’), 1918. Courtesy Tate.