“Mariola, tem um estilo próprio de produzir, sentir e viver a vida. Conheça mais sobre seu trabalho, visite e explore. Muita experiência, crescimento e desenvolvimento!”
Entrevistadora: Janice Kunrath 
Entrevistada: Artista Mariola Landowska
Mariola Landowska em seu Ateliê

Falando de suas Influências:

De Szczecin – Polônia, formação em arquitetura na Polônia e pintura na Escola Clássica Piacenza, Itália. Estudou sobre os artistas clássicos, como destacou: Caravaggio, Tintoretto, Veronese, Giotto, Andrea Mantegna, e depois comentou Kirchner, Paul Cezanne, e ainda em outra fase Miró, Kandinsky, Chagall, Rothko, Peter Doig, Hopper além de enfatizar muito, os artistas Matisse e Gauguin. Todos esses artistas de alguma forma influenciaram ou serviram de referências no seu percurso artístico pelas suas obras. Em relação a Matisse, disse que ao pintar o chapéu e o violino do avô, tempos depois deparou-se com uma foto muito semelhante a sua pintura.

Referiu-se a Gauguin, pois tinha interesse em visitar a Polinésia e pintar as paisagens e os povos daquele lugar, sendo que ao visitar a região do Amazonas, mais precisamente a etnia dos Kayapós, povo Mebenkôgre, deu-se conta de que o jeito das mulheres segurarem uma fruta, de sentarem-se, sua fisionomia, assemelhava-se demais aos traços e pinturas de Gauguin, as quais ela retratou.

Legado da sua convivência com os povos indígenas Mebenkôgre -Kayapó na Amazônia e os povos Pataxós, Pi-Kiriri da Bahia e Fulni-ôs em Pernambuco:

A convivência com os povos indígenas Mebenkôgre -Kayapó na Amazônia e os povos Pataxós, Pi-Kiriri da Bahia e Fulni-ôs em Pernambuco, tiveram um impacto relevante no seu processo criativo, pois não dispunha de muitos materiais, então realizava alguns esboços, depois utilizou essa técnica em seus trabalhos por considerar essa maneira um jeito leve e fluído de desenhar|pintar.

Também refletiram na escolha das figuras representativas nas suas telas e mensagens transmitidas, bem como, outra maneira de ver o mundo, as pessoas, plantas, animais e na seu modo de viver. A sua admiração por diferentes culturas também a levou até o Marrocos e a Índia.

Aprofundou os estudos com conhecimentos de etnografia e mitologia. Explora também diferentes formas de expressão artística em azulejaria e esculturas em mármore, mas a técnica mais utilizada é a pintura. Trabalha com óleos, pasteis de óleo com lápis, guache, aguarela, poska, mas adaptou-se ao acrílico, além de colagens. Gosta de deixar o lado gestual interagir, usar o pincel direto na tela, olhar e pintar, onde o olhar e a mão são para a artista, a sua visão, mesmo ficando por vezes desproporcional. Como comentou: “Eu procuro na verdade um pouco dessa imperfeição.”

Um dos seus temas principais são as mulheres, onde retrata as fragilidades, os encantos, os anseios e sua força, por meio das expressões, traços e gestos, reflete e explica que ela sendo mulher, busca retratar o lado frágil, dócil, afetuoso das mulheres do cotidiano. Assim pintou 12 amigas, onde buscou enfatizar o que cada uma tem de único, onde se desnudaram e deixaram transparecer suas peculiaridades, rodeadas de simbologia onde seus corpos contaram as histórias, sentimentos e sonhos. Essa exposição Vênus Contemporânea ocorreu em 2011 no Museu da Água em Lisboa. Os quadros foram expostos junto as águas e suas imagens refletidas criavam movimentos únicos, conta a pintora.

Falando de Mulheres:

Outra questão fulcral das suas obras, está ligada as pinturas rupestres, os símbolos gráficos, as maneiras e linguagens de comunicação que estão presentes de forma sútil nos seus trabalhos. Assim como as aves presentes nas suas histórias, representam liberdade, sabedoria, com formas desproporcionais dentro da composição, com bicos arredondados, grandes e ou pequenos, cores variadas, retratam memórias como: o acordar e dormir com o canto dos pássaros.

Sua ligação com as Águas :

Outro tema, muito presente em suas obras é a água, que para os indígenas representa a vida, uma fonte de alimentos e para a subsistência dos povos. Sua ligação com água vem da sua infância na Polônia, pois nasceu em uma região banhada por rios. onde praticava esportes náuticos. Na sua obra Rainha Bacalhau, exposição coletiva em 2013, menciona:

“Existe uma água para os banhistas, para os pescadores, para os navegantes e uma outra água de lendas e mitos sobre seres vivos como “Rainha Bacalhau”

A água representa fluxo e transformação, o revelar da sua verdadeira essência.

A afabilidade da artista é encantadora, assim como suas obras, suas histórias, pois deixam transpassar o que vem do seu coração, da sua alma, pela sua total entrega. Seus trabalhos são marcantes, com grande impacto visual, por meio das cores, formas e proporções distintas: “vai sentindo a pintura” ao longo do processo de criação.

Relevância atual:

Mariola gosta muito das diferentes culturas, performances, instalações: “Tudo isso é muito vivo.”, a arte urbana que hoje existe. Aprecia os artistas que conseguem ter um trabalho simples, mas com muito impacto, como é o caso do Artista Vhils. “Ele é simples, negativo no muro, muito simples, dá trabalho para fazer isso, mas muito impacto.”

Gosta também do Artista Kobra no Brasil, pelas suas cores e fantástica geometria. E também entrou num esquema que funciona, mas é preciso ser gênio para conseguir, revela a artista. 

No antigo ateliê em Paços de Arcos, Lisboa, organizava eventos culturais onde conheceu alguns artistas portugueses e estrangeiros. Mantém contato com artistas contemporâneos, especialmente no Brasil, em Portugal e na Polônia.

Artistas contemporâneos que destaca:

Destaca alguns artistas contemporâneos, em Portugal, por exemplo Victor Pomar, Julio Pomar, Julio Resende, Ricardo Passos, Luis Geraldes, Antônio Carmo, Elisabeth Leite, Ana Cristina Dias, Victor Costa, Irene Gomes, entre outros. Ao visitar as coleções Berardo, Gulbenkian, Museus e Galerias eoutras exposições não permanentes a artista declara que sempre aprende muito com as visitas, “As vezes descobrimos artistas que não conhecemos!” Menciona que Paula Rego é uma grande artista que ela é única, pois ela acredita nas suas próprias histórias, da sua infância, é muito ela. É isso que virou ela tão original que ela conta do próprio coração, da própria alma. É isso que a artista deve fazer na verdade, cada artista que faz esse trabalho da própria alma, de própria marca, próprio pensamento, é um grande artista, sem falar dos nomes, digamos.

Convivência com as tribos indígenas:

A influência que os locais em que viveu e visitou foram fundamentais para perceber como a diversidade tanto cultural como da vegetação, do clima, das pessoas, dos animais, das plantas são importantes para o crescimento pessoal e o respeito. Conta que a floresta Amazônica acolhe as pessoas que lá estão, apesar do calor e da umidade intensa, sentida nos primeiros dias, o que fazia com que suas pinturas corporais escorressem com o suor que transbordava das entranhas, mas a sensação de paz, equilíbrio e segurança, era algo muito intenso de sentir. Mencionou que na floresta polaca não sentia esse acolhimento.

Sua convivência com as tribos indígenas permitiu vivenciar as experiências do trabalho que as indígenas desempenhavam diariamente. Tanto no cuidado com os filhos, alimentação, pinturas corporais, cultivo das plantas, banho nos rios, confecção de artesanato. Mencionou que trabalham muito, tem os corpos mais franzinos que os homens, mas carregam peso e são muito fortes e valentes. Para a artista o que mais ficou marcado de significativo da convivência indígena foi a questão do consumismo, ou seja, desapegar de possuir muitos objetos desnecessários.


Suas últimas exposições/Vernissage foram entre Maio e Junho/21 em Szczecin – Polônia  com tema “Kwaśne Mango” (Manga ácida) e Narrativa Lusa CNAP – Clube Nacional de Artes Plásticas, Lisboa Portugal, Junho/21.

Currículo completo