Curadoria Christiane Laclau
De 06 de julho a 27 de agosto de 2021

Montagem 18 obras de Marina Caverzan, séries Diamantes e Matemática Esotérica (2021). Acrílica, emulsão vinílica, lápis grafite e lápis branco sobre tela. 30 x 20 cm


A LURIXS: Arte Contemporânea tem o prazer de apresentar GEOMÉTRICAS: PERSPECTIVAS FEMININAS.

A primeira exposição coletiva com curadoria e texto de Christiane Laclau, inaugura também a agenda 2021 da galeria. A abertura acontece na terça-feira, 06 de julho. Para a segurança e bem-estar de todos, a visitação será mediada por um agendamento online. A entrada e permanência no local está condicionada ao uso de máscara que cubra o nariz e a boca.
A seleção de cerca de 35 obras, que ocupam as duas galerias do prédio da LURIXS no Leblon, propõe um diálogo entre diferentes conceitos, pesquisas, propostas e abordagens de seis artistas — três delas representadas pela galeria: Amalia Giacomini, Elizabeth Jobim e Renata Tassinari e três convidadas: Alice Gelli, Marina Rodrigues e Marina Caverzan — em torno de um universo comum: o abstracionismo geométrico.
A curadora aposta “no frescor e na leveza poética de sua interpretação aos olhos da sensibilidade de mulheres” em contraponto ao pensamento tradicional da racionalidade geométrica, no qual ela destaca “predominava o universo masculino”.
As provocações estéticas, éticas e filosóficas estão no interesse conceitual e plástico de Alice Gelli pela desconstrução, que altera a percepção ordinária dos planos e, assim como Renata Tassinari, faz uso da estrutura como assunto da obra. Na ressignificação artística de materiais mundanos que marca tanto a produção de Marina Rodrigues quanto a intrigante configuração espacial de Amalia Giacomini. Na experiência tátil que nos desperta Elizabeth Jobim ao se valer do linho colorido para elaborar suas novas pinturas a partir das sensações motivadas pela necessidade de recolhimento e precaução. Ou ainda, no limite entre o abstrato e o etéreo que as investigações de Marina Caverzan engendram por meio de linhas e formas geométricas simples que sensibilizam uma dimensão invisível aos olhos.
Deste modo, Laclau acredita que a exposição se impõe como uma forma de saudar e celebrar a coragem, o talento e a ousadia destas artistas, que levam adiante a geometria feminina nos caminhos abertos pelas pioneiras Lygia Clark e Ligia Pape, herdeiras das tradições construtivas do Stjil, da Bauhaus e do construtivismo russo.

Texto por Christiane Laclau

No pórtico de entrada da Academia de Atenas, lia-se: “Não entre quem não for geômetra”. Platão consolidou o entrelaçamento entre o pensamento filosófico e a racionalidade matemática expressa pela geometria, conhecimento levado do Egito à Grécia por Pitágoras e por Tales de Mileto. Para Heródoto, a geometria tem uma função prática, já no entender de Aristóteles, ela é puramente teórica. O platônico Euclides, “pai da geometria”, considerava o espaço como imutável, simétrico e geométrico. Este pensamento se manteve inalterado durante a Idade Média e o Renascimento. Somente na modernidade os modelos geométricos não-euclidianos foram propostos por Carl Friedrich Gauss e Bernhard Riemann. A perspectiva masculina predominou por séculos na racionalidade geométrica ocidental.

A coletiva GEOMÉTRICAS: PERSPECTIVAS FEMININAS confronta essa tradição. O diálogo entre diferentes conceitos, pesquisas, propostas e abordagens das artistas reunidas em órbita do tema proposto pela curadoria apresenta diversas provocações estéticas, éticas e filosóficas.

As artistas Alice Gelli, Amália Giacomini, Elizabeth Jobim, Marina Caverzan, Marina Rodrigues e Renata Tassinari levam adiante a geometria dos caminhos abertos pelas pioneiras Lygia Clark e Ligia Pape, herdeiras das tradições construtivas do De Stijl, da Bauhaus e do construtivismo russo.

Em sua produção, Alice Gelli altera a percepção habitual dos planos. O trabalho se alonga pelos ângulos das quinas e assim seduz o olhar. Suas dobras nas superfícies planas expandem o pensamento e a percepção dimensional, criando um espaço além do espaço. A exploração de diferentes configurações do chassi tradicional alcançou uma amálgama de função e forma. A desconstrução, como interesse conceitual e de resultado plástico, é  a principal característica de suas obras presentes na mostra.

O uso da estrutura como assunto da obra estabelece um paralelo com os trabalhos de Renata Tassinari que interagem com o espaço arquitetônico. O acrílico e a madeira combinam suas diferentes texturas à aparente simplicidade cromática e desenham, através de elementos angulares, uma sugestão de incompletude a ser preenchida pelo observador, que percorre as trilhas pictóricas com o olhar. Fragmentos de uma realidade imaginada pela artista, que se reconstrói na extradimensão de espaço-tempo do pensamento daquele que frui a obra.

O trabalho de Amália Giacomini refrata uma chave de definição. A geometria e a artesania, componentes do seu universo mental, estão a serviço da obra. Da dicotomia entre a imprecisão do fazer artesanal e a organização racional prévia, emergem as sobreposições de recortes de telas anti-chamas e de correntes de armarinho que pendem no ar. Assim, as peças criam ilusões de massa e de profundidade conforme a incisão luminosa e a postura do observador. As curvas catenárias, formadas pela ancoragem de linhas sujeitas apenas à força da gravidade, configuram-se de acordo com o espaço expositivo.

Essa ressignificação artística de materiais mundanos conflui com a produção de Marina Rodrigues. A artista transcende o uso rotineiro de chapas de ferro, que ela adquire como sucata. Recortes de aço, acrílico e fita adesiva, em obras que emulam diagramas eletrônicos fictícios e mapas de um urbanismo fantástico, abstraem a função original do material com rigor e equilíbrio plástico. Com exceção de seus trabalhos escultóricos, as sugestões de plantas baixas, assim como a de multiversos e a de sólidos arquitetônicos, desmontam a impressão de superfície plana e propõem formas com presença tridimensional.

Por sua vez, Elizabeth Jobim se vale do linho colorido como material pictórico. Das sensações provocadas pela necessidade de recolhimento e de precaução, surge a evolução de sua experimentação com tecidos. As camadas de cores e de materiais se abraçam e envolvem a estrutura do trabalho quase que afetuosamente. A costura, nas junções, os cortes no pano e a natureza irregular e elástica do material – suas tramas e texturas –, compõe telas que se sobrepõem, formando módulos que convidam a uma experiência tátil, para além do olhar. Esses trabalhos se relacionam intimamente com suas já bem conhecidas pinturas a óleo, também presentes na exposição.

A expressão pictórica igualmente constitui as obras de Marina Carvezan. O simbolismo, expresso na recorrência da utilização de linhas e de formas geométricas simples, trafega no limite entre o abstrato e o etéreo. As questões ligadas a sua investigação estão implícitas no conceito de épura, da geometria descritiva: a transposição de sólidos para a dimensão plana. As linhas em seus quadros derivam da composição do diamante bruto e dos cortes feitos nele para transformação do mineral em brilhante. Seus Diamantes são decomposições – de cor, claridade, corte e quilate – em imagens que projetam a potência latente presente no mineral original. Já em sua série de pinturas esotéricas, a artista utiliza cores alquímicas – nigredo, albedo e rubedo – para a representação do oculto: uma dimensão invisível aos olhos.

Esta exposição celebra as visões do abstracionismo geométrico que essas mulheres vêm desenvolvendo em suas trajetórias artísticas. Esse campo – historicamente dominado por homens – está defronte, no século XXI, da luta pela equidade de gênero, que vem alcançando, cada vez mais, mudanças na sociedade e na arte.


Sobre a curadora:
Christiane Laclau é fundadora da plataforma ARTMOTIV (@artmotiv.brasil) e membro do comitê de indicação do Prêmio Pipa. Formada em comunicação social e pós-graduada em crítica de arte e curadoria pela UCAM-EAV, entrou no mundo da arte em 2012.

Há 6 anos coordena viagens culturais, visitas guiadas e o curso Artmotiv Now, onde apresenta os nomes internacionais, com produção a partir dos anos 2000, que se destacam em feiras, bienais e galerias.

Também está à frente do projeto Art Wall, do Shopping Leblon, no qual já exibiu nomes como Rafael Alonso, Gustavo Prado, Gabriela Machado, Heberth Sobral, Lin Lima e Frida Baranek.


GEOMÉTRICAS: PERSPECTIVAS FEMININASAbertura: 06 de julho, das 11h às 20hAgendamento: https://bit.ly/geometricasperspectivasfemininas Exposição: 07 de julho a 27 de agosto de 2021LocalLURIXS: Arte ContemporâneaRua Dias Ferreira, 214 – Leblon Rio de Janeiro, Brasil – 22431-010 www.lurixs.comwww.facebook.com/lurixs @lurixsHorárioDe segunda à sexta: das 11h às 18h Sábados sob agendamento
LURIXS : Arte Contemporânea. Rua Dias Ferreira 214, Leblon - Rio de Janeiro 

Fundada em 2002 por Ricardo Rego, a LURIXS: Arte Contemporânea se situa no Rio de Janeiro. Ao longo de seus 14 anos, num casarão preservado, no bairro de Botafogo, a galeria organizou quase 50 exposições, mantendo-se na vanguarda da cena artística do Rio de Janeiro ao promover uma mescla de nomes históricos, como Hélio Oiticica, François Morellet e Geraldo de Barros, Lygia Clark, Lygia Pape, entre outros, e artistas contemporâneos, como José Bechara, Raul Mourão e Elizabeth Jobim.

Em 2017, quando passa a funcionar no Leblon, num espaço especialmente concebido e projetado para ser uma galeria, a LURIXS dá início a uma nova etapa em sua trajetória. Com projeto arquitetônico de Miguel Pinto Guimarães, o prédio de quatro andares e 500 metros quadrados – na rua Dias Ferreira, 214 – conta com dois espaços expositivos, uma reserva técnica, além de escritórios. No novo endereço, a galeria mantém o compromisso de apresentar um intenso programa, alternando exposições com obras contemporâneas e mostras concebidas a partir de seu potente acervo, que tem como principal eixo os movimentos Concreto e Neoconcreto e os desdobramentos que derivam dessa forte tradição, reconhecida e admirada no Brasil e internacionalmente.

Atualmente, a LURIXS representa os artistas históricos Hélio Oiticica, Geraldo de Barros e Luciano Figueiredo e um time de nomes contemporâneos: Amalia Giacomini, Coletivo Muda, Elizabeth Jobim, Gustavo Prado, Hildebrando de Castro, José Bechara, Manuel Caeiro, Mauricio Valladares, Paulo Climachauska, Raul Mourão, Renata Tassinari, Valdirlei Dias Nunes e Vicente de Mello. O acervo da galeria inclui ainda trabalhos de artistas consagrados como Judith Lauand, François Morellet, Cildo Meireles, Lygia Pape, Lygia Clark, Anna Maria Maiolino, Antonio Dias, entre outros.

Para promover a difusão da arte brasileira e dos artistas representados, a LURIXS também desenvolve consistente atuação institucional, buscando o intercâmbio de obras com prestigiadas instituições. Assim, a galeria mantém diálogo constante com colecionadores, críticos e curadores para apresentar os trabalhos dos artistas que representa, buscando inseri-los em coleções de renome. Atualmente, há obras de seus artistas em importantes acervos públicos e privados, tanto do Brasil quanto de outros países. A galeria também participa anualmente de feiras, como a SP-Arte e a ArtRio.