O tempo ________ marcador _______ das coisas______”

Não é só tempo. Ainda penso o espaço e o corpo porque tenho um pensamento marcado por determinados autores. Fui forjada numa tradição que me deu um lugar para existir. Todos nós. Ainda assim tento (labirinticamente) compreender o contemporâneo nos seus recônditos mais longitudinais, entendendo que a experiência da arte traz “cem anos antes (pelo menos)” o que vivemos como um hoje.

​Pensando nos sentidos que o mundo nos aponta (teoricamente e factualmente) temos hoje algumas questões para pensar.

​Como o curador ou crítico destitui as démarches históricas na captura dos trabalhos poéticos? Pode ele se retirar do horizonte já dado, teórico ou factual, da familiaridade com a literatura e da tradição filosófica? Se não pode, não estaria colocando uma outra camada no trabalho de arte usando de um ardil que fecundaria uma “outra” imagem que bem pode ser o “último” simulacro?

Mesmo quando estamos tratando de fotografias, de vídeos e de cinema, ainda guardamos os vestígios de outras obras pretéritas, podendo inclusive fazer outras associações (de todo tipo) para conferir uma contemplação estética mais confortável e familiar, sublinhando a narrativa na descrição de uma obra de arte.

Tudo isso parece estar explícito em algumas obras de determinados artistas que trazem os vestígios e os restos do mundo para dentro e para fora do espaço expositivo. A visualidade da arte contemporânea suga todos esses aspectos, basta lembrar da poeira que adentra as instalações de Rivane Neuenschwander. Os artistas parecem driblar a constituição de um mundo muito ordenado e científico, lançando mão da experiência da arte como produtora de sentidos intrínsecos a ela mesma, subvertendo a ordem das frases, criando lacunas que passam por entre a vida.

O tempo marcado na experiência das coisas pode trazer as coisas marcadas pelo tempo… ainda procuro as lacunas o contemporâneo.

ALINE REIS | 13 de abril de 2021